Penso que nasci na época errada.
Queria ter usado os triunfantes vestidos da década de vinte,
de trinta...
Ah os anos dourados,
como eu queria ver de perto aquele brilho. Como seria gostoso viver a liberdade
colorida da Tropicália, sussurrar em microfone que adoro – num sentimento leve
e crocante – as músicas daquela época, daquele filme de magia real.
Se naquela época eu existisse, seria uma cantora de rádio.
Abusaria de batons vermelhos, cabelos cheios, sinais ao canto da boca, muito
brilho nas vestes e nos sapatos. Durante a noite, e só. Pois na luz do dia, eu
seria uma jornalista, enrolada em uma bela saia de alfaiataria, de cintura alta
– cintura alta comporia meu estilo – blusas decotadas sem perder o ar de
seriedade, cores em tons pastéis, sem esquecer os anéis. As entrevistas que
faria, não posso deixar de frisar, questionaria a Clarisse Lispector sobre a
luz do luar. José Saramago, que não é tanto de lá, o perguntaria sobre
palavras, e de onde havia tirado a idéia de que todos nós somos escritores, só
que alguns, apenas não escrevem, acho que ele tem razão. Fico certa de que
seria colega de Anayde Beriz. Um pouco mais no fundo desse desejo Carmem Miranda
seria minha diva, um estímulo para saborear frutas – que gozado – mas eu a
aconselharia, usar Havainas nas horas vagas, e já que ela se mostrava tão
exagerada, poderia até inovar as sandálias com lantejoulas, para que a simplicidade
da borracha compactuasse com o glamour do brilho.
Peço licença ao chamado Rei, Roberto Carlos, pois
interpretaria suas músicas, com meu toque feminino, e se me permitisse,
faríamos um dueto, que seria avassalador, com certeza marcaria a época, e
cantaria para meu avô “Olhando seus cabelos, tão bonitos, beijo suas mãos e
digo meu querido, meu velho, meu amigo...” um espetáculo a parte. Os cafés, sem
dúvida seriam meu local predileto da cidade, lá eu escreveria minhas mais belas
expressões do que via do mundo.
Tenho essa mania do obsoleto, que na minha emissão de
opinião - sem compromisso com a verdade - sempre vai estar em moda. Eu não teria
pressa, só pra sentir o gostinho daquela época. Teria minha cara pintada. Iria
aos velhos estádios de futebol. Compraria um calhambeque, ou quem sabe uma brasília,
não amarela, vermelha. Ensinaria nas praças, tentaria passar meus valores para
que as crianças soubessem a importância de ter um ideal. Diria aos jovens que: vento
nenhum sopra a favor de quem não sabe o quer. Estamparia para as pessoas, que o
amor vale à pena, que é sublime, sem igual. Diria aos rapazes que nunca
deixassem de ser românticos, que nunca perdessem o costume de fazer serenatas,
escrever bilhetes, e fazer splish splash no cinema. E para as moças, que nunca
perdessem a delicadeza de suas vestes e atitudes, e nunca deixassem de dançar
jazz.
Eu, na pieguice chique de meus desejos.
Bruna Kedman, primeira e única!
ResponderExcluirOs seus textos estão cada vez melhores. Esse li de um fôlego só, apesar da fonte não o favorecer, ou será minha idade que não permite as variações do blogger? Agora são tantas, não é mesmo?
Cheiros e saudades, assim um acompanhado do outro.
Isabel, minha querida amiga!
ResponderExcluirObrigada! Escrever se tornou uma parte do meu corpo, não vivo sem! Escrevo do jeitinho que eu sinto!
Saudades, sexta apareço por lá!
Beeeijos